segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A construtiva visão de longo prazo




“Primeiro a gente faz de conta, depois se torna...” (Guimarães Rosa).


É curioso como as pessoas que costumam adotar uma visão de longo prazo se diferenciam das demais. Em geral, são mais empreendedoras e deixam marcas profundas nas suas biografias e das pessoas que lhes são mais próximas.  A visão de longo prazo faz com que os obstáculos do dia a dia se tornem menores, às vezes até vistos como pequenas adversidades. Já para os mais imediatistas, estas mesmas adversidades se tornam barreiras intransponíveis por não saberem aonde querem chegar, conduzindo-os a perda da fraca orientação que possuem ante tal obstáculo.

Alguns autores definem os empreendedores como visionários, pessoas que promovem as mudanças que resultarão no cenário futuro. Eu, particularmente, considero que empreendedores são construtores de sonhos. São aqueles que idealizam um sonho, definem estratégias e táticas para sua realização e o constroem obstinadamente. Aqui não há nada de mágico. O sonho é construído c-o-t-i-d-i-a-n-a-m-e-n-t-e, tijolinho a tijolinho. E, acreditem, à base de muita renúncia, superação e sacrifício, extensivo aos familiares.

         Certamente todos nós conhecemos pessoas assim, que trabalham sempre para a realização de um sonho empresarial, ou político, ou social, ou religioso; nem sempre com êxito.

A visão de longo prazo nos vincula mais ao coletivo que a visão imediatista de natureza mais egoísta. Também, nos torna mais responsáveis para com nossos descendentes. É raro aquele que deseja mal ao mundo de 2030, igualmente raro é aquele que hoje esteja agindo para que lá encontremos um mundo melhor. Queremos o bem lá na frente, mas infelizmente, não estamos construindo isso agora. É o que diz uma pesquisa do Ibope encomendada pela ONG internacional WWF: “A elite brasileira é ecologicamente inviável – Impacto de classe A e B sobre o ambiente no país é comparável ao dos EUA”. Precisamos acoplar o futuro que sonhamos com nossas ações do presente.

Tem uma estória que diz que “o diabo paga à vista e Deus só paga à prazo”. Isto é, precisamos renunciar às tentações do presente para construirmos um futuro melhor. Em freqüentes oportunidades, agimos por ansiedade e insegurança com o propósito de assegurarmos logo um resultado a nosso favor, na melhor expressão da lei do Gerson. Quantas crianças são alfabetizadas precocemente? Quantas crianças são adultizadas? Quantos pais, por ansiedade, são aceleradores dos processos vitais de desenvolvimento de seus filhos sem respeitar a velocidade natural?  

Dias atrás, li uma reportagem de um jornal de São Paulo que dizia: “Brasileiro gasta mais com carro que com educação – Fenômeno ocorre mesmo entre famílias com filhos, mais ricas e escolarizadas”, e pensei que aí estava um confronto emblemático entre a visão de longo prazo e a de curto prazo. É tentador sentirmos o imediato cheirinho de carro novo, ainda que saibamos que esta atraente propriedade organoléptica possa nos comprometer ou inviabilizar o futuro. Todos sabem que o ingresso de jovens no mercado de trabalho está altamente competitivo, e que as exigências curriculares e de titularidade são crescentes para a realização profissional. Também, sabem que o conhecimento é condição basilar da moderna economia. Mesmo assim, a maioria das pessoas prefere o carro (que está novo por uns dias), ainda que neste mesmo jornal paulista outra reportagem diga: “Sobra 1 milhão de empregos qualificados – vagas não são preenchidas por falta de qualificação, diz Ministério do Trabalho”.

Termos bons sonhos e sabermos o que é melhor para nossos filhos e netos não são suficientes. Precisamos ser educados para termos coerência e sermos mais conscientes de nossos desencontros. Estudar ética, conhecer educação financeira, planejar a vida, ter religiosidade e agir na construção do futuro sonhado nos ajudarão muito. A qualidade da mente e do espírito é fundamental. Não basta confiarmos em nossos planos, precisamos confiar sim, em nós mesmos e nos outros.

Quando nossas ações forem paralelas aos nossos mais nobres desejos, o encontro será inevitável na infinitude de nossos sonhos.





Publicado no jornal Cinform 03/08/2009 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do Comércio / SE – Editorial jul/2009




Nenhum comentário:

Postar um comentário