terça-feira, 18 de outubro de 2011

Professor em dia



     Em 15 de outubro comemora-se o Dia do Professor. E para festejá-lo, fiz este reflexivo texto. Costumo afirmar que o educador é um trabalhador extremamente privilegiado quando comparado a outros profissionais. Sei que muitos leitores estão prontos a discordar dessa comparação por inúmeras razões bem sabidas, a exemplo de baixos salários, más condições de trabalho, entre outros. Porém, reafirmo que temos o privilégio de contar com o tempo a nosso favor, diferentemente dos demais profissionais.

     Quando semeamos um bom trabalho pedagógico com jovens, o tempo reforça o crescimento dessa semente, fecundando o campo do caráter. Nas demais profissões, há uma permanente e inglória luta contra o tempo destruidor. Mas, enxergar isso é uma dádiva dos deuses aos que têm compromisso com seus alunos e exercitam a visão de longo prazo. “Há pessoas de visão perfeita que nada vêem... O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido”, diz doutor Rubem Alves, convincente.


     A Pedagogia Waldorf valoriza ao extremo o compromisso do mestre com seus alunos, levando-o a lecionar como professor de classe durante todo o ensino fundamental, isto é, oito anos na mesma turma, crescendo – pessoalmente - junto às crianças. Disso resulta uma forte interação e profundo conhecimento sobre cada jovem em sua vida escolar e familiar.


     É nesse compromisso do professor que aprofundaremos. A figura do mestre representa para o estudante muito mais que a imagem de um rotineiro profissional prestador de serviço. Esse docente deve espelhar um modelo futuro de adulto a ser copiado. Assim, estabelece-se uma relação cármica, ou seja, o destino do jovem está em grande parte nas mãos dos seus professores. Menos pelo conteúdo transmitido e mais pelo conjunto praticado de valores e atitudes. Isso aumenta muito a responsabilidade dos educadores.


     Para ilustrar melhor o compromisso do verdadeiro educador com seus alunos, temos uma emocionante história real. Henryk Goldszmit, nascido em 1878, na cidade de Varsóvia, Polônia, filho de uma rica família de judeus, ele sofreu permanentes ameaças do pai, doente mental, que gastava todo o patrimônio em tratamentos ineficientes até falecer em um hospício no ano de 1896, deixando a todos em situação miserável.


     Tal vivência deu forma à causa que Henryk abraçaria por toda a sua vida. Ele repudiou a frequente tirania dos poderosos sobre os fracos e a tirania dos adultos sobre as crianças. Para cumprir sua missão, ingressou na medicina, especializando-se em pediatria.


     Henryk também começou a escrever e publicar suas experiências entre a população carente. Além disso, adotou o nome de Janusz Korczak, pelo qual ficou mundialmente conhecido como o médico que cuidava dos miseráveis e advogava a causa das crianças.  Em 1912, Korczak decidiu deixar a medicina para dedicar-se exclusivamente a dirigir orfanatos conforme a “República das Crianças”, idealizada por ele em sua famosa obra “Como Amar Uma Criança”.


     A partir do momento que sua cidade foi tomada pelos alemães, Korczak se viu forçado a deslocar seus órfãos para o recém-criado Gueto de Varsóvia. Mesmo com toda a precariedade, por dois anos, ele e sua equipe cuidaram das crianças mantendo certa normalidade nas atividades pedagógicas de rotina, inclusive de recitais de música e de fazer apresentações teatrais.


     Em julho de 1942, os nazistas começaram a transferir os habitantes do Gueto de Varsóvia para o campo de extermínio de Treblinka. Em 5 de agosto daquele ano, aqueles 200 órfãos marcharam sob a liderança de Korczak, de cabeça erguida rumo ao trem que os aguardava. Apesar das ofertas anteriores de salvo-conduto, Korczak permaneceu nas suas incumbências.


      “Não se abandona uma criança doente ou carente durante a noite. Eu tenho 200 órfãos. Num momento como esse, vou ficar ao lado deles a cada minuto”, afirmou. Na última ocasião em que Korczak foi visto, ele mais uma vez estava prestando auxílio às suas crianças – no interior do trem.


     Caro professor, compromisso é acreditar que “os anos ensinam muitas coisas que os dias desconhecem”.





Publicado no jornal Cinform em 17/10/2011 – Caderno Emprego



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