segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A importância estratégica da micro empresa




     Dias atrás, vivi a oportunidade de participar como palestrante no 1° Encontro de Empresas Juniores na UFS, quando falei sobre a economia sergipana e as tendências de mercado promissoras para nossas empresas juniores. Naturalmente, não possuo bola de cristal para adivinhar o futuro, mas passei para os jovens empreendedores indicadores que anunciam as mudanças mais claras, a exemplo de questões ambientais, envelhecimento populacional, empreendedorismo, interiorização e empoderamento local, dentre outras. Porém, a minha maior satisfação em participar do evento foi sair de lá com a certeza de que alguns tabus e dogmas começam a ser quebrados no ambiente acadêmico. Lá estavam empresas juniores de engenharia florestal, administração, economia, ciências contábeis, química e outras, apresentando caminhos que aproximam o valioso conhecimento acadêmico do grandioso espaço reservado às micro e pequenas empresas no campo da inovação.


É sabido que o Brasil pouco investe em P&D (pesquisa e desenvolvimento) na iniciativa privada. São diversas as razões para isso e podemos enumerar algumas: primeiramente, a pouca pesquisa realizada no Brasil está concentrada principalmente na universidade pública. Isto é, 73% dos pesquisadores brasileiros estão nas universidades, enquanto nos EUA apenas 13% estão nelas. Já os centros de pesquisas brasileiros têm 11% dos pesquisadores ante os 79% dos norte-americanos. Em segundo lugar vem o difícil relacionamento público-privado brasileiro, onde empresário e lucro são mal vistos. Com certeza, é muito difícil conseguir a cessão, ainda que temporária, de um pesquisador de universidade pública para desenvolver seu projeto em uma empresa privada. Diferentemente, este mesmo pesquisador é gentilmente cedido para algum órgão público. Assim afirma o doutor Jacques Marcovitch — reitor da USP de 1997 a 2001, autor da série "Pioneiros & Empreendedores".


Certamente, os argumentos que a universidade apresenta para defender seu ponto de vista são bem fundamentados e embasados em citações sólidas. Fortes também são os argumentos da iniciativa privada que necessita de P&D e não consegue fazê-lo deslanchar, embora todos saibam que a interação será vantajosa para todos, como disse Carlos Henrique de Brito Cruz, presidente da Fapesp: “Com orçamento anual de R$ 13 milhões, o Instituto de Física da Unicamp já deu origem a 12 empresas de alta tecnologia, que faturam R$ 300 milhões. Diga-me qual investimento rende mais de 20 vezes".


Os institutos de pesquisas devem mediar essa importante aproximação entre as demandas tecnológicas do mercado e a pesquisa universitária.  Assim aconteceu na Coréia do Sul, país que em apenas três décadas elevou a renda per capita de seu povo em seis vezes com relação à brasileira no mesmo período. Nessa Coréia, encontra-se a sede da Nokia, maior fabricante de telefonia celular do mundo, mas que na década de 80 era apenas um fabricante de botas de borrachas. Tal fato ilustra o esforço empreendido na formação de capital humano (educação, escolaridade, empreendedorismo, inovação, pesquisa) e capital social (confiança, identidade nacional, valores comuns), pilares da nova economia mundial.


Aqui entra a vantagem da micro empresa como fonte de inovação. Se olharmos para o cenário atual, veremos que grandes marcas líderes como Aplle, microsoft, HP, Bematech (Brasil), Mandic (Brasil), etc., nasceram em garagens, apartamentos ou em incubadoras de pequenas empresas ligadas a universidades. Está aí a grande vantagem competitiva para a micro e pequena empresa sobre as demais: a agilidade.


Diferentemente, na maioria das grandes empresas a idéia deve nascer no ano anterior para ser contemplada no orçamento corrente. Uma boa idéia pode sofrer bloqueio hierárquico devido a vaidades, insegurança ou outras questões de recursos humanos. Para assegurar o retorno sobre investimento e obter vantagem competitiva, uma boa idéia, durante sua fase de pesquisa e desenvolvimento, deve ser guardada em segredo, o que é muito difícil na grande empresa. Além de tudo isso, um pesquisador apaixonado por seu trabalho peleja em busca de uma resposta, horas seguidas, de forma incansável, independentemente se é dia, noite, sábado, domingo ou feriado. Como fazer isso numa empresa burocratizada, normatizada e zelosa para evitar contenciosos trabalhistas?


Naturalmente que o poder econômico está do lado da grande empresa. Dentre os 100 maiores PIBs do mundo, mais da metade são oriundos de conglomerados econômicos e só a menor parte é formada por países.  Por isso, uma boa idéia que se transforma em inovação finda por ser adquirida por grandes empresas, seja através de fusões, incorporações, sociedades ou pela simples compra da propriedade intelectual. Ainda assim, pode ser extremamente vantajoso para as micro e pequenas empresas negociarem seu invento.


Devemos defender a micro empresa e assegurar que disponha de um ambiente saudável para sua sobrevivência. A micro empresa não é um acidente de percurso simplesmente porque ainda não cresceu. Ela deve ser valorizada e protegida por leis para que possa cumprir o papel que a nova economia lhe tem destinado: ser um agente de inovação, criatividade, empreendedorismo e geração de empregos, trabalho e renda para nosso país. 





Publicado no jornal Cinform 14/09/2009 – Caderno Emprego



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