segunda-feira, 11 de junho de 2012

Carta aberta à RIO+20: Não é só questão de gosto


Inicialmente, desejo que esse encontro histórico mundial seja a sede da sabedoria e da consciência cósmica, compatíveis com a grandeza das decisões esperadas. Também que a lucidez da inteligência amorosa e o desapego a valores secundários reinem nos debates que produzirão novas políticas e regras de convivência harmoniosas em nosso sofrido planeta.
Muitos dos pressupostos basilares da nossa civilização estão ameaçados, desestabilizam, consequentemente, a segurança de toda a humanidade. Pensadores modernos já disseram que em nossa era “faltam-nos as estrelas fixas”. Essa afirmativa revela, também o desencanto com a ciência que se expôs onipotente e redentora, porém, na prática, desumana por essência. Desumana porque se fundamenta no mito da neutralidade do observador que, em última análise, é o próprio ser humano: subjetivo em seu todo, incompleto em seu desenvolvimento, plural nos olhares, dúbio em suas decisões, tridimensional na relação com o tempo e com o espaço, tetradimensional em relação aos reinos da natureza, pois se abstrai do reino animal ao reconhecê-lo e classificá-lo, olhando-o de cima.
Com efeito, se a ciência se sente desconfortável com a natureza do homem, então a quem ela se destina e para quem ela serve?  É possível o domínio da natureza sem considerar a humanidade?
Vejamos esse clássico diálogo: “Mas Messier de Laplace, e quanto a Deus?”, indagou Napoleão. “Eu não preciso dessa hipótese”, respondeu o astrônomo Laplace, ao explicar a Napoleão a teoria da origem do universo”.
            A exclusão de Deus da ciência, para afirmação dela, pode ter acarretado à eliminação automática do próprio homem, por Sua imagem e semelhança. Essa lógica fria se mostra caduca na própria ética legitimada pela ciência ao propor modelos redutores que degradam para melhor dominar. Exemplo disso é o confinamento abusivo de animais, como galinhas de posturas “plantadas em gaiolas” como se fossem hortaliças em vasos, a lhes impor uma vida “vegetativa”. Método tão desrespeitoso ao reino animal quanto aceito por todos.
A destruição da natureza é a destruição do homem e vice-versa. Enquanto prevalecer a noção utilitária da natureza e do ser humano como insumos do setor econômico e do Estado, nada de melhor será possível fazer. Continuaremos sabendo tudo, mas fazendo errado. Talvez, maquiando soluções ou envernizando fracassos até conhecer a intolerância da fustigada natureza. Assim, é um mero espelhamento o tratamento que damos à ecologia em relação à visão egoísta e míope de nós mesmos.
Ampliar a imagem do ser humano, estimular o desvendar da vida, da alma, do espírito e do corpo, além da própria natureza pela via do conhecimento para a formação de uma nova consciência, é a proposta que vejo como a mais adequada para respondermos ao ultimato que, hoje, temos nas mãos. Tenho fé de que logo seremos capazes de encontrar os caminhos da superação.
 Goethe, poeta, escritor e naturalista alemão do século XVIII, origina uma proposta real de método qualitativo para pesquisas científicas. Já Rudolf Steiner, filósofo austríaco do século XX, autor da ciência espiritual Antroposofia, oferece propostas concretas e laicas de organização social, pedagogia, medicina, agricultura, entre outras aplicações, todas exequíveis para harmonizar o desenvolvimento do homem com a natureza em perfeito equilíbrio, sem prejuízo ao crescimento econômico, governamental e espiritual da sociedade. Estes são apenas alguns vultos grandiosos que não compactuaram com o poder contemporâneo, em meio a outros.
Disse Thomas Huxley, frio defensor de Darwin: “Não é menos respeitável ser um macaco modificado em vez de barro modificado”.  Penso que o nobre cientista falhou ao “materializar” o sentido literal de macaco e barro. Faltou-lhe poesia para ver no barro a união dos quatro elementos – terra, água, ar e fogo. Eu nem sou criacionista, mas prefiro ver minha origem numa metáfora de barro a uma genética de macaco. Não é só questão de gosto.
 

           Publicado no jornal Cinform em 11/06/2012 – Caderno Emprego

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