segunda-feira, 31 de maio de 2010

O valor do conhecimento

 

Todos nós sabemos que o conhecimento tem valor econômico. Sabemos também, que quanto mais se sobe na hierarquia das organizações maior é a exigência de conhecimentos do ocupante do cargo. Assim, da mesma forma que se exige maior formação intelectual dentro da empresa aos que estão no topo da pirâmide, também o mercado, de forma geral, hierarquiza o conhecimento como referência de valor.


É fácil ver que em um moderno aparelho celular estão importantes conhecimentos agregados. Poucos sabem fazer celular no parque industrial. O mesmo acontece com inúmeros outros produtos industriais que são frutos de um conjunto reduzidíssimo de empresas capazes de fabricá-los. Por que poucas empresas conseguem fabricar em condição de competitividade produtos e serviços que possuem demanda garantida de consumidores para adquiri-los? É aqui que entra o fator diferencial entre organizações econômicas: o conhecimento. Porém, o mesmo conhecimento que favorece uma empresa de ponta atual, será totalmente inútil em curto prazo se houver mudança nos paradigmas de consumo ou produção. Por exemplo, a Motorola foi referência em telefonia celular analógica, após a mudança da rede de telefonia móvel para o sistema digital, tal liderança passou a ser da Nokia. Por muito tempo a Sony foi praticamente única em equipamentos de som individuais, desde o lançamento do walkman, ainda com fitas cassetes, e mais tarde com o discman, tocador de CDs. Essa soberania foi perdida após a americana Apple lançar a linha ipod, em outro paradigma tecnológico, não prontamente acompanhado pela empresa japonesa.


Estes exemplos nos apresentam claramente o valor que o conhecimento tem quando agregado a produtos. Alguns autores, como o pesquisador Tom Coelho, afirmam que não compramos produtos, mas apenas serviços. Ninguém compra uma furadeira porque quer a furadeira em si. Compramos, na verdade, os furos que necessitamos em nossas paredes, serviço este, prestado pela incômoda furadeira.  Desta forma, o conhecimento se torna ainda mais valorizado economicamente, pois nos serviços ele é mais visível e, portanto, passível de avaliação direta do consumidor do que nos produtos industriais em geral. Em um restaurante, a limpeza de um prato é mais fácil de ser avaliada que um erro no processo de fabricação do próprio prato que o deixou em desconformidade. É no serviço que o conhecimento se realiza, enfim.  


Conhecimento é poder. Por isso, a educação dá poder às pessoas na medida em que as prepara para responderem a desafios cada vez mais complexos e seletivos. A educação é o caminho da liberdade porque emancipa o homem dando-lhe o poder de decidir com mais segurança, e assim, adquirir o almejado livre arbítrio, uma exclusividade humana. A capacitação, aliada a autoconfiança, produz milagres na evolução profissional dos trabalhadores.


Gosto de usar como exemplo do valor do conhecimento os dados econômicos do estado da Califórnia nos Estados Unidos. Sua economia é diversificada, cerca de um terço de sua área é ocupada por fazendas que produzem tanto, que fazem dela o maior celeiro da agricultura americana. É o maior produtor de leite, carne bovina, tomate, morango, melões, pêssegos e melancias e segundo maior produtor de laranjas, além de uvas e vinhos. Dados, portanto, extremamente significativos para qualquer economia tradicional. Porém, toda essa portentosa produção primária responde por apenas 2% do seu PIB. Os produtos industriais propriamente ditos, correspondem a 18% do PIB do estado, ai incluídas as grandes indústrias da informática, telecomunicações e eletrônicos, também, as maiores do país. Sobram, então, 80% do PIB que é completado pelo setor terciário, nele compreendido o comércio e os serviços diversos. Destacam-se o entretenimento fruto de Hollywood e a produção de software para os mais diversos fins.


Como vimos, apenas a economia dos serviços californianos equivale a cerca de 125% de todo o PIB brasileiro. Comparativamente ao nosso estado de São Paulo, a Califórnia, que possui população aproximada, detém um PIB total cinco vezes superior. Tudo isso, fruto do incremento de valor que o conhecimento dá a moderna economia.


Penso que o grande motor da economia mundial moderna é a educação. Ela é o suporte do conhecimento e este, precisa do empreendedorismo para se transformar em valor econômico. É preciso mobilizar o conhecimento através de redes de colaboração interdisciplinares para que possa acontecer inovação em larga escala e, conseqüentemente, gerar riqueza. O que só será possível se houver a indispensável gestão do conhecimento.




Publicado no jornal Cinform 31/05/2010 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do Comércio / SE – Editorial jun/2010

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