segunda-feira, 9 de maio de 2011

Por um ensino médio empreendedor



    O ensino médio brasileiro passa por uma grave crise existencial. Não apenas porque perdeu a identidade do seu caráter formativo, mas também por apresentar-se utilitariamente como trampolim para o curso superior, ou, pior ainda, como mero reforço dos conhecimentos do ensino fundamental.


Quando olhamos diretamente para o ensino médio não vemos o seu rosto. Sua arquitetura atual revela-se um ambiente de passagem, semelhante aos detestáveis corredores presentes em minúsculos apartamentos, a roubar-lhes caros espaços úteis. Desta forma, muitos jovens evadem das escolas em busca de encontrar algo que lhes ofereça mais sentido à vida e aos anseios e desafios, particularmente, próprios da adolescência dos mais carentes. 


“A educação secundária parece ser o nível mais difícil de se transformar no mundo inteiro. Preparada para receber jovens dos setores médios e altos, começou, já há algumas décadas, a receber jovens de todos os setores sociais. Por outro lado, sua proposta cultural e pedagógica segue em importante medida ancorada no século XIX. O diagnóstico é claro. As alternativas estão em construção”, reporta a autora Cecília Braslavsky – UNESCO.


De modo geral, todos entendem a juventude como algo passageiro ou, uma fase a ser superada. Dessa visão de transitoriedade resulta uma grande escassez de políticas públicas para juventudes no Brasil. Consequentemente, mais um ponto a dificultar a vida desse relevante período escolar.


Diante das constatações universais acima apresentadas surgem ações interessantes de resgate para o ensino médio. Desde novos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs - já apresentados pelo Conselho Federal de Educação, até, uma nova proposta de ensino médio articulada por renomados educadores brasileiros em parceria com a UNESCO.


Essa nova proposta, temporariamente denominada Protótipos Curriculares de Ensino Médio e Ensino Médio Integrado, traz em seu escopo a clara intenção de revolucionar a escola ao aproximá-la das perguntas básicas que movem nossos jovens, e da formação para o trabalho, enquanto espaço educativo fundamental.


Se reconhecer a falência do atual ensino médio é uma unanimidade entre educadores, então, este é, por si, motivo para que todos dêem as mãos visando que o novo projeto seja bem sucedido e se torne uma construção sólida de toda comunidade escolar. A célula primordial do novo modelo é o Projeto Político Pedagógico de cada unidade escolar, que deve ser legítimo e participativo, elaborado por pais, professores, gestores, alunos, funcionários e demais membros da comunidade escolar.


É lugar-comum dizer que no papel cabe tudo. E, novamente o projeto está no papel, de onde precisamos retirá-lo para que se realize no mundo físico e social. O que talvez seja um sonho, e assim, ocorrem duas vertentes possíveis: a primeira, é que só serão integradas ao novo modelo as escolas que assim o desejem. A segunda, é que a adesão implicará na construção de um novo empreendimento e, como tal, revestido de inovações, desafios a serem superados e avaliados.


Já que falamos em sonho, surpreendentemente, agora o assunto fica mais fácil porque existe uma ciência que fundamenta a arte de construir sonhos. É o empreendedorismo, ciência de natureza comportamental, capaz de habilitar pessoas à realização de seus propósitos de vida, ou seja, seus sonhos. Nesse sentido, desfazendo a imagem de comércio, uma das biografias que reúne maior número de característica de atitudes empreendedoras é a da saudosa Irmã Dulce, o anjo bom da Bahia, construtora do maior hospital público do país, ainda em pleno funcionamento. 


Conceitualmente, o empreendedorismo se constitui em um conjunto de atitudes e de hábitos que podem ser adquiridos, praticados e reforçados nas pessoas, ao submetê-las a um programa de capacitação adequado de forma a torná-las capazes de gerir e abraçar oportunidades, melhorar processos e inventar negócios de qualquer natureza.


Em Sergipe, 120 docentes de ensino médio da rede pública estadual freqüentaram entre 2005 e 2006 a pós-graduação lato sensu, MBA – Empreendedorismo para Docentes, que os habilitou a ministrar tal disciplina. Certamente, esses diferenciados professores podem ser ótimos avaliadores do empreendedorismo na educação e dos seus efeitos nos milhares de alunos. Paralelamente, verão que no novo projeto tudo remonta ao empreendedorismo, só não utilizando explicitamente este termo.   


Professores, gestores, alunos e educadores em geral, empreendam, pois, a escola dos sonhos é a escola onde os sonhos são incentivados e se ensina como construí-los, mesmo na escassez. Ou o futuro não está em nossas mãos.




Publicado no jornal Cinform 09/05/2011 – Caderno Emprego



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