segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O viúvo é o marido da viúva ou o professor ideal de tributos brasileiros




     Selecionar candidatos a uma vaga de emprego é tarefa árdua. Sempre há um grande risco na escolha e de consequências, geralmente caras e desastrosas para todos, se malsucedida.


Por certo, uma das áreas em que há grande dificuldade para se encontrar o profissional pleno é a de tributos. O Brasil produz 6 normas de código tributário diariamente nas esferas municipais, estaduais e federal. São tantos produtos reguladores, que desafiam a capacidade humana de compreensão e, pior ainda, a capacidade de explicar esse assunto a alguém. Esse “Samba do Crioulo Doido” composto na “Torre de Babel” tem que ser dominado por todos os brasileiros, já que a esses, não é dado o direito de desconhecer qualquer Lei.

Com efeito, uma empresa que não faz negócios com os demais Estados do País deve cumprir, à risca, pelo menos 3,4 mil normas tributárias. Isso equivale, aproximadamente, a acompanhar 38,4 mil artigos ou 89,5 mil parágrafos. Ou ainda: 286,2 mil incisos. Afinal, são 250 mil normas tributárias criadas desde a Constituição Federal de 1988, que regulamentam os 62 tributos vigentes. Porém, a todos, tranquiliza saber que "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". É nesse cenário tenebroso que descobrir o professor perfeito para a matéria tem deixado muito recrutador experiente cronicamente insone.

Com Aderbal não era diferente. Experiente recrutador de uma faculdade de Administração e Direito, ele suava frio quando imaginava ter que encontrar e selecionar professor da matéria em comento. Pois, além de escassos numericamente, os candidatos dificilmente atendiam os pré-requisitos supraplanetários exigidos. Mesmo candidatos capazes de explicar para que servem bolsos de pijamas ou de colocar aliança em dedo de pato, não conseguiam convencer o selecionador de serem capazes de ensinar sobre nossos tributos. Até que, por uma dessas coisas que a lógica cartesiana não explica e que a visão imagética não convence, Aderbal, nosso dramático protagonista, percebeu - com seu calejado feeling - estar diante do candidato ideal por conta dessa pequena história contada por ele (o candidato, é claro):

“A alguns anos atrás eu conheci e acabei me casando com uma viúva, bem conservada, mas que já tinha inclusive uma filha crescida. Mais tarde, o meu pai se casou com a filha da viúva.

Então a minha enteada tornou-se minha madastra e eu virei padrastro do meu pai. Ao mesmo tempo, eu virei sogro do meu pai e minha esposa virou sogra do próprio sogro.

Depois a filha da minha esposa, minha madrasta, teve um filho. Este menino é meu irmão uma vez que ele é filho do meu pai, mas ele é também filho da filha da minha esposa, que o torna meu neto. Eu virei então avô do meu irmão.

Mas isso não era nada até a hora em que eu e a minha esposa tivemos um filho. Agora a filha da minha esposa, que é irmã do meu filho e também minha madrasta, tornou-se avó do próprio irmão. O meu pai, casado com a irmã do meu filho, acabou virando cunhado do próprio neto.

Eu sou cunhado da minha madrasta, minha esposa é tia da própria filha, meu filho é sobrinho do meu pai e eu sou avô de mim mesmo!”

E, para finalizar a esclarecedora narrativa com chave de ouro, o candidato ainda explicou tim-tim por tim-tim, os critérios que fundamentaram a pensão alimentícia que passou a receber, quando da separação litigiosa do seu pai, o cunhado do próprio neto. Além, da justa e lúcida partilha de bens resultante da morte da viúva, obviamente, como vimos, a tia da própria filha. E, carismático que é, o professor terminou demonstrando cabalmente que o viúvo é o marido da viúva.

Nem é preciso dizer que esse candidato tornou-se o professor que mais dominava a matéria sobre tributos brasileiros, posto que “não se ensina aquilo que se quer, ensina-se e só se pode ensinar aquilo que se é”, assim assegurou o pacifista francês Jean Jaurés, cem anos atrás, sem nem conhecer o Brasil.


        Publicado no jornal Cinform em 14/01/2013 – Caderno Emprego
        Publicado na Revista Tecnologia da Informação &Negócios nº 12/2013
                 Publicado em http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/o-viuvo-e-o-marido-da-viuva-ou-o-professor-ideal-de-tributos-brasileiros/84236/
                    Publicado na Revista Fecomércio Sergipe Nº 23 Fev/Mar 2017


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