segunda-feira, 5 de março de 2012

América Latina: um discurso memorável



     Durante a Cúpula das Américas de 2009 em Trinidad e Tobago, ocorreu, como se esperava, um permanente confronto ideológico entre alguns dirigentes latinoamericanos e Barack Obama, representante máximo do emblemático Estados Unidos. Contudo, próximo do final, o Presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz, Óscar Arias, discursa convidando a todos para uma reflexão sobre a quem devemos responsabilizar pelo fracasso latinoamericano.     


     A seguir, alguns trechos do seu pronunciamento: “Tenho a impressão de que cada vez que os países caribenhos e latinoamericanos se reúnem com o presidente dos Estados Unidos da América é para pedir-lhe coisas ou para reclamar coisas. Quase sempre, é para culpar os Estados Unidos de nossos males passados, presentes e futuros. Não creio que isso seja de todo justo”.


     Veja mais: “Não podemos esquecer que a América Latina teve universidades antes que os Estados Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as primeiras universidades desse país.  Não podemos esquecer que nesse continente, como no mundo inteiro, pelo menos até 1750 todos os americanos eram mais ou menos iguais: todos eram pobres. Ao aparecer a Revolução Industrial na Inglaterra, outros países sobem nesse vagão: Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e aqui a Revolução Industrial passou pela América Latina como um cometa, e não nos demos conta. Certamente perdemos a oportunidade.


     Há 50 anos, o México era mais rico que Portugal. Em 1950, um país como o Brasil tinha uma renda per capita mais elevada que o da Coreia do Sul. Há 60 anos, Honduras tinha mais riqueza per capita que Cingapura, e hoje Cingapura, em questão de 35 a 40 anos, tornou-se um país com $40.000 de renda anual por habitante. Bem, algo nós fizemos mal, os latinoamericanos.


     Que fizemos de errado? Nem posso enumerar todas as coisas que fizemos mal. Para começar, temos uma escolaridade de 7 anos. Essa é a escolaridade média da América Latina. e não é o caso da maioria dos países asiáticos. Certamente não é o caso de países como Estados Unidos e Canadá, com a melhor educação do mundo, similar a dos europeus. De cada 10 estudantes que ingressam no nível secundário na América Latina, em alguns países, só um termina esse nível secundário.


     Como disse esta manhã, não pode ser que a América Latina gaste $50.000 milhões em armas e soldados. Eu me pergunto: quem é o nosso inimigo? Nosso inimigo, presidente Correa, desta desigualdade que o Sr. aponta com muita razão, é a falta de educação; é o analfabetismo; é que não gastamos na saúde de nosso povo; que não criamos a infraestrutura necessária, os caminhos, as estradas, os portos, os aeroportos; que não estamos dedicando os recursos necessários para deter a degradação do meio ambiente; é a desigualdade que temos que nos envergonhar realmente; é produto, entre muitas outras coisas, certamente, de que não estamos educando nossos filhos e nossas filhas. 


     Vá alguém a uma universidade latinoamericana e parece, no entanto que estamos nos anos sessenta, setenta ou oitenta. Parece que nos esquecemos de que em 9 de novembro de 1989 aconteceu algo de muito importante, ao cair o Muro de Berlim, e que o mundo mudou. Temos que aceitar que este é um mundo diferente, e nisso, francamente, penso que os acadêmicos, que toda gente pensante, que todos os economistas, que todos os historiadores, quase concordam que o século XXI é um século dos asiáticos não dos latinoamericanos. E eu, lamentavelmente, concordo com eles. Porque enquanto nós continuamos discutindo ideologias, continuamos discutindo sobre todos os "ismos" (qual é o melhor? Capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, neoliberalismo, socialcristianismo...) os asiáticos encontraram um "ismo" muito realista para o século XXI e o final do século XX, que é o pragmatismo”.






Publicado no jornal Cinform em 05/03/2012 – Caderno Emprego



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