segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Gestão e pedagogia: Princípios comuns

 

Guardo, com muito zelo, um exemplar da revista Informática Exame, de março de 1996. Esse querido exemplar me traz a perfeita noção do quanto nossa sociedade se transformou em tão pouco tempo. Lá está uma chamada para uma edição especial sobre tecnologia da informação com o seguinte título: “entre no mundo da informação sem limites”, com promessas de apresentar “a internet e o boom do comércio eletrônico”. Acontece que no anúncio consta um número de telefone à disposição dos promissores anunciantes, mas não há email ou endereço de internet disponível porque simplesmente, em 1996, não existia internet no Brasil, exceto algumas ilhas da rede. Nesta mesma revista, em outra página, tem um cupom para “acesso direto” aos anunciantes, via Correios, sem necessidade de selar. Encontro, ainda, uma propaganda de um computador Pentium 100, em imperdível promoção por R$ 4.200,00, cerca de R$ 8.000,00, hoje, se corrigido pelo dólar, ou seja, dez vezes o preço de um PC atual de capacidade muito superior.


Assim era o mundo em 1996, ano da promulgação da atual LDB – Leis de Diretrizes e Bases- que regulamenta todo o sistema educacional brasileiro. Embora seja uma Lei moderna, não foi desenvolvida para o contexto atual, o mundo da EaD - educação a distância, das redes sociais, do lap top para cada criança, das lan houses cidadãs, do ENEM, do ENADE, das cotas raciais (sic), dentre outras coisas.


Diante de uma transformação social tão veloz, há de se supor que, assim como muitos jovens de hoje são completamente incapazes de imaginar o mundo sem celular e sem internet, também, nos é impossível saber quais novas profissões surgirão em muito pouco tempo, oportunizando trabalho, inovação, e até uma total dependência tecnológica que não nos  faz a menor falta hoje, mas será indispensável em pouco tempo.


Paralelamente, existem coisas que não mudam, resistindo ao tempo através da sistemática e pobre polarização de valores. Algo como assim ou assado, luz ou escuridão, mercado ou Estado, dentro ou fora. Creio que tal estreiteza de visão está imbricada de pseudo-ideologia da dialética marxista, na qual é necessário se opor tecnicamente, para criar sustentação ao discurso, ainda que distorcido. Situação em que, uma frase apenas, isolada do contexto é usada para desqualificar uma palestra ou uma tese. É uma forma simplista de “vender” a realidade.


Como dizem os antigos, desde que Adão era cadete, isto é, desde quando nossos mais remotos antepassados começaram a observar as estrelas, e que perceberam a tridimensionalidade das coisas presentes no mundo. A partir dos astros, percebemos o tempo cronológico dividido em passado, presente e futuro. Também aprendemos com o céu a nos deslocar no espaço físico terrestre, coincidentemente, em três dimensões: altura, largura e profundidade.


Creio que a tridimensionalidade nos enriquece a compreensão do mundo que vivemos. Desta forma, se imaginamos um circulo, podemos ver que o seu centro pertence a dentro e a fora simultaneamente, igualmente a sua borda.  O mesmo acontece com os modelos de mercado e Estado que desconsideram a existência do terceiro setor, notadamente quando afirmamos que este é não-governamental e sem fins lucrativos. Só dizemos o que ele não é, pois falta-nos a tridimensionalidade natural para entendermos o mundo. Entre os pólos existe o limiar assim, como entre a luz e a escuridão estão todas as cores.


Penso que perguntas recorrentes do tipo “aluno ou cliente?” merecem respostas mais complexas e menos ideologizadas. Todo aluno deve ser tratado como cliente até que se comece um verdadeiro trabalho pedagógico, isto é, até por o pé na sala de aula. A partir daí passa a ser aluno. A relação da escola com o aluno deve ser profunda, pois até o destino deste está sendo definido. Portanto uma relação de profundidade, largura e altura superior à de uma empresa com seus clientes.


Igualmente, quando perguntado se a escola é uma empresa? Respondo que sim. A escola é uma empresa, seja do ponto de vista institucional, seja pelos compromissos orçamentários e financeiros que possui, ou ainda, pela desafiante sobrevivência mercadológica. Mas, acima de tudo, é uma empresa, por ter que ser sustentável para honrar seus compromissos econômicos e educacionais. Isso vale inclusive para a escola pública que tem que apresentar resultados de seu trabalho pedagógico maximizando seus recursos orçamentários.  


Devemos fugir da superficialidade na observação da realidade. Pedagogia e gestão são frutos de uma mesma ciência e, portanto, não podem divergir em seus princípios mais básicos. Tridimensionalmente, devemos educar o pensar, o agir e o sentir na pedagogia. Analogicamente, os gestores necessitam de conhecimentos, habilidades e atitudes, ou seja, competência de suas equipes. Todos os grandes autores afirmam ser a educação casada com o trabalho.





Publicado no jornal Cinform 13/09/2010 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do Comércio / SE – Editorial set/2010

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