segunda-feira, 23 de junho de 2014

O Pronatec contra a educação platônica


O Governo Federal anunciou esses dias o lançamento do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec 2.0 -, elevando o status atual de Programa de Governo para Programa de Estado. Em outras palavras, tornar-se-á objeto de duradoura e estável Lei, assegurando sua permanência com mais vigor e independência aos movimentos eleitorais.
Considerando o desempenho do Pronatec, desde sua criação em 2011, vê-se assegurado o pleno êxito no atingimento da meta de oito milhões de matrículas em cursos profissionalizantes gratuitos, até o final de 2014. Também, merece destaque a qualidade desses cursos, já que são ofertados pelo “Sistema S” (Senac, Senai, Senat, Senar), institutos federais, escolas profissionalizantes estaduais e faculdades particulares de melhor conceito na avaliação do Enade.
São mais que justificáveis os motivos para a renovação e ampliação desse Programa: os investimentos em educação no Brasil se mostram insuficientes para os desafios da moderna Economia. Infelizmente, a produtividade do nosso trabalhador é sofrível quando comparada à de países mais ricos e, uma das causas, é a baixa qualidade da escola combinada aos poucos anos de frequência do aluno. Assim, além de dispormos de uma escola que, em geral, não relaciona o conteúdo curricular com a aplicação desse mesmo saber no cotidiano, ela, ainda parece ser um elemento acessório no contexto socioeconômico, pois carece de pertencimento e sentido de prioridade no modelo mental dos brasileiros.
Mas, isso vai mudar. Temos que acreditar e fazer por onde. Imaginemos, num sonho, que todos os brasileiros fossem estudantes. Os trabalhadores estudassem sistematicamente e os empresários também. Os funcionários públicos estudantes, dessem exemplos de melhores práticas e, principalmente, os professores, que também seriam alunos cativos, aprimorando e vivificando seu labor. Segundo a Pedagogia Waldorf, quando o professor se mostra estudioso, influencia automática e positivamente seus alunos e, por isso recomenda que o docente lecione na mesma turma, do primeiro ao oitavo ano do Ensino Fundamental, em um desafio que o obriga a crescer junto com seus alunos.
Com efeito, o Brasil com duzentos milhões de estudantes, faria uma revolução capaz de se reinventar em médio prazo, sem conflitos, onde todos sairiam ganhando, desde que, essa Educação não seguisse ideais platônicos. Como assim? Historicamente, o trabalho sempre foi visto como algo degradante e sinônimo de submissão ou pobreza. Platão, no século V a.C., mesmo sendo reconhecido como um dos maiores pensadores da história, abominava o trabalho manual. Desse modo, ele entendia que os escravos iriam para o inferno, juntamente com os artistas plásticos e todos aqueles que pertencessem à nata da sociedade, mas que desenvolvessem atividades com as mãos, a exemplo de esculturas ou pinturas. Platão valorizava apenas o trabalho mental, os ideais, a oratória e as projeções irrealizáveis. De tal modo, esse filósofo se traduz em utopias e paixões inatingíveis, quando propõe que devemos amar apenas os ideais.
Em paralelo, essa imagem platônica compõe o cenário de uma escola em que os conteúdos cognitivos não chegam às mãos dos estudantes, permanecendo como ideais irrealizáveis em suas cabeças. Portanto, qualquer coincidência é mera semelhança mesmo.
Contra isso, a práxis educacional deve equilibrar teoria e prática sistematicamente, o que fará brilhar a participação dos alunos e, acima de tudo, trará significância para o conhecimento. Essa composição mais harmoniosa é o que se vê costumeiramente na Educação Profissional, ao formar o elo do desenvolvimento de habilidades com conhecimentos.
O Pronatec provê, para além dos reconhecidos benefícios sociais e econômicos, um sutil e importante ganho pedagógico para os alunos de cursos técnicos concomitantes à escola regular: ao ofertar o “aprender a fazer” e o “aprender a conviver”, o Pronatec combate a educação platônica (ou bancária na visão freiriana). Afinal, como Heródoto, contemporâneo de Platão disse: “educar não é encher um balde, é acender um fogo”.

Publicado no Jornal Cinform em 23/06/2014 - Caderno Emprego


Um comentário:

  1. Acender o fogo do saber exige sabedoria que só é concebida quando amamos, reinventamos e buscamos cotinuamente aplicar os Pilares da Educação.

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